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sexta-feira, 1 de abril de 2011

Coisas estranhas em Montes Claros (parte I)

30 mil novos empregos criados em Montes Claros

Ontem, 31 de Março, estive presente na Câmara Municipal de Montes Claros, na Audiência Pública sobre geração de emprego e renda, com a presença do Secretário de Estado do Trabalho Carlos Pimenta.

Sem dúvida uma Audiência Pública muito pertinente em virtude daquilo que se passa em Montes Claros relativo a este assunto.

Para além dos motivos profissionais que me levaram a estar presente, confesso que estava curioso para ouvir algumas explicações relativamente à propaganda da prefeitura que dá conta de que Montes Claros teria criado mais de trinta mil postos de trabalho no ano de 2010.

É que, em contas rápidas, e para quem não anda distraído com estas coisas da vida econômica da cidade, tendo em conta que a cidade tem cerca de 360 mil habitantes, dos quais 180 mil (50%) são ativos economicamente, e que a taxa de desemprego no Brasil é de 6% (6% de 180 mil são 19.440), dizer que a cidade criou 30 mil empregos é dizer que não só não há desemprego na cidade como falta muita mão de obra para preencher as vagas criadas.

Ora, todos sabemos que isso não corresponde à verdade. Infelizmente ainda existe muito desemprego na cidade. Pelo que concluímos que a propaganda que a prefeitura passa é completamente enganosa.

Na verdade, o que acontece é que durante 2010 foram contratados cerca de 30 mil trabalhadores, mas em compensação foram demitido cerca de 25.300, o que origina um saldo de aproximadamente 4.700. Este sim é o número de postos de empregos criados efetivamente em 2010. Valores que mostram que durante o atual mandato a criação de emprego na cidade dobrou.

Então estamos perante um caso de sucesso da atual administração? Infelizmente não!

Se tivermos em conta que metade deste número é idêntico ao número de servidores que foram contratados pela prefeitura e que em todo o Brasil os últimos dois anos foram anos de forte subida na criação de empregos, depressa constatamos que o município não só não teve um aumento significativo na criação de emprego como ainda constatamos facilmente que, obviamente, ficou muito abaixo da média nacional.

Aliás, o próprio secretário de estado fez questão de frisar que o ano de 2010 foi um ano excelente de crescimento econômico em Minas Gerais, que cresceu acima da média nacional, e que houve um extraordinário aumento de vagas, embora muito aquém da necessidade.

Todos sabemos que, mais uma vez infelizmente, Montes Claros não seguiu essa tendência e a sexta maior cidade de Minas Gerais cresceu abaixo da média do Estado e que, obviamente isso também se repercutiu no número de empregos criados. Para se ter uma idéia a média de criação de empregos mensal nos municípios no estado é de cerca de 800 vagas por mês e Montes Claros não chega aos 400 (é só dividir os 4.700 por 12). Mas, poderão perguntar: Mas não é BH que puxa essa média muito para cima? Sem dúvida. Contudo se observarmos os dados do Ministério do Trabalho encontramos cidades como Uberlandia, Uberaba, Nova Serrana e Contagem, todas com média perto ou acima de mil novos postos de trabalho por mês. Se Montes Claros é a sexta maior cidade do Estado então quer dizer que o nosso desenvolvimento não acompanha o crescimento populacional. E todos sabemos os problemas que isso trás.

Bem, contas feitas, podemos dizer a mesma frase que foi tão repetida durante a campanha eleitoral: ”Ainda que o prefeito fosse uma pedra” o emprego de Montes Claros cresceria sempre o que cresceu (sem contar com o número de contratados pela prefeitura, claro!).

Impelido então por estes números, que fiz questão de apresentar na dita audiência, e que não foram desmentidos por ninguém (nem pelo secretário de emprego do estado), perguntei à Câmara, que deveria fiscalizar o trabalho do executivo, que medidas a mesma tomou junto do município para alertar o Sr. Prefeito para este grave problema de falta de oferta de emprego na cidade, ao que o Vereador Athos Mameluque, que presidia à referida audiência, me respondeu, que em Fevereiro foram criados mais de 3 mil empregos (a mesma confusão dos 30 mil – na prática foram um pouco acima dos 900 - que é um record e são muito importantes, mas igualmente preocupantes dado que a maioria das contratações foram feitas por apenas uma empresa) e, confundindo o trabalho da Câmara com o do executivo, como se os dois fossem um só, me alertou para a criação de empregos pela empresa tele-marketing (2 mil vagas em Fevereiro e mais 800 em Abril), pela colocação dos concursados (mais dois mil) e para a criação da nova cidade industrial em Nova Esperança. Segundo ele, e tendo em conta o que perguntei as medidas da câmara de alerta ao executivo para o problema foram estas que acabei de enumerar (!!!).

Mas pronto. Mesmo aceitando esta confusão do Sr. Vereador, confundindo legislativo com executivo (coisa no mínimo estranha), fico mais uma vez bastante preocupados com a política de geração de emprego que os nossos responsáveis políticos têm desenvolvido.

Relativamente à criação da nova cidade industrial ainda é muito cedo para contar com ela. Para além da sua colocação geográfica, para mim muito discutível, ainda terão que ser criadas todas as infra-estruturas para que possa receber alguma empresa (urbanização, acessos, esgotos, etc).

Relativamente à colocação de concursados, se não estou em erro, os mesmos vão ocupar as vagas dos contratados. Ou seja, empata as contratações com as demissões.

E, por fim, a empresa de tele-marketing, essa sim criadora de postos de trabalho efetivos.

Não é que a sua vinda para Montes Claros não seja importante, claro que é. Contudo, Uma cidade do porte de Montes Claros não pode estar dependente de uma empresa como fonte de emprego e renda. Nas cidades mais pequenas, como por exemplo Várzea da Palma é que só existem duas fontes de emprego: no caso o poder público e a metalúrgica. Montes Claros tem que fugir destas estratégias.

Além disso, no caso de Montes Claros desenvolver o seu IDH (Indíce de Desenvolvimento Humano), como se espera, irá se verificar um aumento real dos salários, pelo que esta empresa, muito possivelmente em poucos anos, irá novamente mudar de cidade, pelas mesmas razões que a fizeram vir para Montes Claros.

Portanto, urge que o município tome medidas relativamente à política de captação de novas empresas para Montes Claros, quer para o seu desenvolvimento econômico quer para criação de novos e duradouros postos de emprego.

Também é fundamental que a Câmara Municipal deixe de brincar aos executivos e de andar preocupada com as cotas de asfalto que cada vereador vai receber e comece a cumprir a sua missão fiscalizadora sobre as medidas (ou falta delas) do executivo.

Voltando rapidamente à audiência pública, foi estranho que, num assunto desta importância, não tenham estado presentes nem os sindicatos trabalhistas (com exceção da CUT), nem grande parte da comunicação social, principalmente as televisões (falta de interesse na matéria?)

Por fim, e alertando para aquilo que eu penso que seja mais um sintoma de problema de empregabilidade no município, a tão badalada notícia da criação de muitas novas empresas no município, principalmente de serviços, pode não ser tão bom como se julga.

Montes Claros, pólo universitário, me parece, e aqui é mesmo só um palpite que pode estar redondamente errado por falta de dados concretos, parece não ter demanda para tanto novo licenciado, pelo que os mesmo, para fugirem do desemprego, tentam abrir o seu próprio negócio. Atenção aos próximos 12 meses para podermos analisar o número de encerramentos destas mesmas novas empresas (neste caso não me importaria nada de estar errado).

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